Vão-se os acentos, ficam nos anéis.

Reputação é uma coisa interessante.

Muitas vezes, a pessoa nem te conhece pessoalmente, mas já ouviu falar de você. Aí, quando te conhece ao vivo, já tem um perfil completo e sabe exatamente como falar contigo ou se portar na sua frente. Claro que nem sempre isso funciona, pois a reputação é apenas um verniz por cima de um monte de outros detalhes. Mas, ainda assim, ela sempre vai comandar o que as pessoas acham da gente.

Era uma vez um redator com décadas de experiência, que vamos chamar aqui de Silvio. Além de trabalhar na agência, Silvio era professor universitário, tinha mestrado e estava fazendo doutorado em Letras, ambos em universidades de ponta. Além de bem construídos e muito criativos, seus textos tinham uma característica imprescindível a todo redator ou escritor profissional: gramática impecável. Chegava a ser irritante, pois até no WhatsApp ele escrevia corretamente, sem vícios, nem abreviações.

Certo dia, Silvio estava em sua mesa, fazendo uma pesquisa para um conteúdo que precisava desenvolver até o final do dia, quando o revisor, que chamaremos aqui de Carlos, se aproximou todo sem graça, perguntando:

– Beleza, Silvio!? Cara… Eu tô aqui com uma dúvida. Será que você pode me ajudar?

Sempre prestativo, Silvio parou sua pesquisa, se levantou para conversar com Carlos.

– Grande Carlos! Cara, eu tô precisando de um chazinho. Vamos lá na cozinha pegar um comigo? Aí você me conta qual é a dúvida.

No caminho, Carlos começou a falar, um pouco encabulado:

– Sabe o que é? Eu tava revisando um texto aqui e me bateu uma dúvida: a palavra “anéis” tem acento?

Silvio parou de andar, olhou seriamente para Carlos e devolveu:

– Uai?! Claro que tem. É pegadinha, né!? – começando a dar risada.

– Não, cara. É sério. É que eu estava revisando um texto seu e a palavra anéis foi escrita sem acento. A Paulinha (atendimento da conta) tinha lido antes e também não falou nada. Até perguntei pra ela se tinha visto também, mas ela disse que deveria estar certo, afinal, você escreveu.

– Sério, cara?! Deixa eu ver aqui…

De fato, estava ali, a palavra errada, no meio do parágrafo, olhando para Silvio, zombeteira, apontando o dedo para ele, como se gritasse “A-há! Te peguei!”. Então, Carlos continuou:

– Olha, eu fiquei meio confuso, porque eu lembro que o acento caiu em algumas construções, como colmeia, ideia… Aí, bateu mesmo a dúvida. Pensei, “Bom, foi o Silvio que escreveu. Deve estar certo”. Mas eu resolvi conferir e vi que a regra para palavras como anéis e pastéis não tinha mudado.

Sem graça com o erro bobo que cometeu, mas com a maturidade dos mais de 20 anos como redator, Silvio respondeu:

– Putz, Carlos. Imperdoável, mesmo. Esse foi um texto que reescrevi umas dez vezes. Não justifica, admito. Infelizmente, no meio de um caminhão de textos diários, a gente acaba errando mesmo às vezes. Valeu pelo toque, meu amigo. E fique tranquilo. Pode apontar e corrigir, sem problemas. Vamos indo que eu preciso mesmo de um chazinho. Uma pergunta: tá rolando muito erro, por isso você veio me procurar?

– Não! Longe disso! Seu texto dá até raiva de revisar. Nunca tem nada pra corrigir. É que… mesmo depois de ter achado, continuei na dúvida. Afinal, a gente procurou na internet.

– “A gente”?

– É, cara! Eu entrei em pânico! Aí eu chamei o Luís e a Ju para me ajudarem. A Paulinha tava junto. Cada um procurou em sites diferentes. Todos dizendo que tem acento.

Sem entender muito aonde a conversa estava indo, Silvio olhou bem no fundo dos olhos do revisor e mandou:

– Carlos, não estou entendendo… Se você tinha achado a resposta pra sua dúvida, por que chamou um comitê?

– Silvio… Entenda: você escreve bem pra caramba. Em quatro anos de agência, eu nunca peguei um erro seu. De repente, aparece uma palavra diferente no seu texto e… Olha, não fica bravo, por favor, mas eu procurei no VOLP também.

– Caramba… A coisa foi grave mesmo. – e deu uma risada.

– Pára, Silvio. Tô falando sério. Eu ainda estou na dúvida. Tem certeza que tem acento mesmo?

– Claro que tem, Carlos. Pelo amor de Deus. Eu errei, meu amigo. Acontece. Vamos lá pegar meu chazinho…

– Não, cara… Eu não tenho tanta certeza assim. Eu mandei uma mensagem pra eles, inclusive.

– Eles quem, Carlos?

– Pra ABL.

– Você mandou uma mensagem para a Academia Brasileira de Letras perguntando se anéis tem acento?

– Não. Eu mandei questionando a grafia da palavra.

Sem entender se era brincadeira ou não, Silvio olhou mais sério ainda para Carlos.

– Carlos, eu errei. Tá tudo bem. Acontece. Achei divertida a brincadeira, inclusive. Mas agora eu preciso terminar minha pesquisa. Esse texto que eu tô cuidando é meio chatinho preciso entregar até o final do dia. Eu só vou pegar meu chazinho antes. ‘Té mais.

– Silvio, espera. Tem mais uma coisa. Um funcionário da ABL ligou aqui querendo falar contigo.

– Como é que é?

– Ele disse que foi seu aluno numa pós e que foi ele quem recebeu meu email.

– Como assim? Ele quer falar comigo exatamente sobre o que?

– É que a gente achou que seria interessante, a fim de sustentar o argumento, falar que foi você quem achou o erro no VOLP.

– Erro no VOLP? Tá maluco, Carlos?

– Sim! Só pode estar errado, Silvio. Aí, como os sites se baseiam nele, todo mundo errou também.

– Carlos, eu escrevi errado. Corrige aí e bola pra frente. Eu já superei. Fica tranquilo. Acontece. Deixa eu pegar meu chaz…

Carlos se pôs na frente de Silvio e, calmamente, apontou para a sala de reuniões.

– Eu transferi a ligação pra sala de reuniões e nós todos estamos lá para ouvir você falar com ele no viva-voz.

– “Nós todos”? – desta vez, Silvio estava branco e com os olhos arregalados.

– É… todo mundo tá revoltado com a ABL e quer garantir que a regra seja cumprida.

– Regra…?

– Olha, entra lá e fala com o cara. Ele disse que ficou na dúvida também, principalmente quando soube que foi você que escreveu. Parece que você revisou o TCC dele na pós e que foi elogiado pelos membros da Academia. Pelo jeito, ele vai encaminhar a petição ao presidente da ABL, mas ele quer ler antes pra você.

– Ler pra mim, por que? Que petição é essa?

– Ah! Ele fez uma petição online. Já temos mais de três milhões de assinaturas, apenas em 40 minutos! Ele só tá com medo de ter algum erro e quer que você corrija…

– É o que?

Quando se deu conta, Silvio estava na entrada da sala de reuniões, que estava apinhada de gente. Não só os funcionários da agência, mas o povo dos escritórios vizinhos. Assim que entrou, todos bateram palmas e aos gritos de “Tamo junto”, o empurraram até a cadeira mais próxima do aparelho de telefone. Assim que se fez silêncio, Silvio se sentou à frente do aparelho e, gaguejando de nervoso, falou:

– Alô!? Quem fala?

Devido à qualidade do alto-falante, a voz saiu um pouco metalizada do aparelho, mas era efusiva.

– Puxa vida! Professor Silvio! Que honra! Olha, já tá tudo certinho. Não deixaremos mais uma dessas passar. Eu não sou membro da ABL, mas enquanto funcionário, me sinto na obrigação de ser um dos guardiões da língua. E o senhor não vai acreditar quem estava passando na frente da minha mesa enquanto eu lia o manifesto de agravo.

Tonto e sem conseguir parar de olhar para o aparelho preto à sua frente, Silvio balbucia:

– Manifesto…

– Isso! – responde a voz metalizada – Sabe quem tá aqui do meu lado? O pre-si-den-te da ABL!

– Você tá dizendo que o Merval Pe…

Uma voz um pouco mais grave, com sotaque carioca, interrompe pelo aparelho a frase de Silvio.

– Meu querido Professor Silvio! Que honra estar falando contigo, ainda que remotamente. Quero, antes de mais nada, em nome de toda Academia Brasileira de Letras, pedir minhas mais humildes escusas pelo erro grosseiro cometido por nós. Quero de antemão garantir que medidas estão sendo tomadas para a pronta substituição do verbete errado. Sentimos muitíssimo pelo inconveniente e espero que nosso requerimento encaminhado ao Colégio Doutoral Tordesilhas em Linguagens surta efeito em todos os países lusófonos. O senhor acha que precisamos tomar mais alguma atitude, talvez mais incisiva?

Silvio estava ainda mais pálido, de olhos arregalados, estático e apertando com força os braços da cadeira com as mãos. Depois de alguns segundos, conseguiu fechar a boca, olhou para Carlos, que permaneceu fielmente ao seu lado, e disse:

– Acho que vou querer um whisky no lugar do chazinho.

Conceito e KV. Não tem como errar.

Se tem uma coisa que gera celeumas intermináveis nos cursos de Publicidade e Propaganda, mais especificamente nas disciplinas de Criação, é o tal “conceito da campanha”. Na academia discutimos isso fortemente, escrevemos artigos e livros sobre, criamos metodologias incrivelmente infalíveis e definitivas, que depois de alguns anos são substituídas por outras incrivelmente infalíveis e definitivas, ou revistas e readequadas ao momento.

Enquanto isso, no mercado, a coisa simplesmente acontece. É aquela coisa da Big Idea, da qual Ogilvy fala em seu Confissões de um Publicitário. A ideia simplesmente vem, depois de horas debruçando sobre o problema, maratonas de pesquisas sobre o assunto, intermináveis sessões de escrutínio ao cliente, tentando entender o produto, seus atributos e benefícios.

Confissões de um publicitário | Amazon.com.br

O segredo, no final das contas, é falar o óbvio, aquilo que todo mundo sabe, mas de uma maneira muito mais interessante e criativa. Como eu digo aos meus alunos, a gente pode simplesmente dizer “Omo deixa suas roupas muito limpas”, ou a gente mostra uma criança se sujando enquanto brinca no parquinho, sob o olhar divertido de seus pais completamente despreocupados, pois tem um pacote de Omo em casa que, numa elipse do roteiro, é mostrado em ação, deixando a roupa mais limpa do que quando foi comprada.

Ou seja, o produto sempre deve ser o protagonista, o “ator principal” da campanha, pois como Ogilvy nos adverte no seu “Confissões”, o bom anúncio “é aquele que vende o produto sem atrair a atenção para si mesmo”. Sempre de maneira criativa, claro.

Aí, voltamos à velha discussão: como chegar a um conceito criativo? Como eu disse lá em cima, nos cursos de graduação em Publicidade a gente fala das técnicas, pensa em alguns caminhos, força os alunos a seguirem por eles, mas mesmo assim, muitos literalmente se perdem, lembrando apenas que tudo deve girar em torno do produto (ou serviço), resultando em campanhas insossas ou cheias de lugares comuns.

Mas isso é um assunto para um próximo artigo. Eu só levantei essa lebre do Conceito Criativo para introduzir uma campanha que encontrei por um acaso, depois de uma longa conversa com meu amigo Filipe Crespo, da CreativosBR.

Estávamos batendo um papo sobre a vida, carreira e outras coisinhas bestas, quando vem à tona o assunto que nos une (além da longa amizade, claro): a Publicidade. Estávamos falando sobre as agências mais premiadas de 2020, quando ele me indicou uma que eu não conhecia para seguir, a AQKA. Confesso que há uns cinco anos eu parei de acompanhar as agências, um pouco por causa da correria da vida acadêmica, um pouco por querer voltar minha atenção para outros assuntos mais “mundanos”, como games, filmes, séries, músicas e livros (em especial de ficção). Claro, com a desculpa de que eu estava alimentando meu “arcabouço criativo” (o que não deixa de ser verdade).

Mas tem um outro ponto que eu não gosto muito de falar, mas que considero o definitivo para essa minha falta de vontade de acompanhar a Publicidade ultimamente: a chatice que começou a dominar as campanhas. E não me refiro à onda politicamente correta presente na Publicidade atualmente, mas sim à chatice entediante de campanhas sem sal, cheias de obviedades e sem o menor apelo criativo. Sei lá se é porque tudo anda tão quadradinho, sempre fundamentado por dados ricamente garimpados e que apontam para a melhor solução, ou se é porque a galera tá perdendo a mão mesmo.

Claro. Os tempos são outros e isso não se pode negar. A Publicidade só sobrevive às mudanças porque está sempre atenta a elas e se molda a elas. Essa é a maravilha da Publicidade.

Mas, depois do papo com meu amigo, resolvi voltar a seguir mais de perto as agências, começando pela sua indicação. Como bom criativo, fui direto no portifólio da empresa. E que surpresa agradável! Nenhuma novidade ao encontrar campanhas que refletem o espírito desta era, mas incrivelmente criativas. E no meio delas, uma em especial me chamou a atenção, não apenas pela beleza e criatividade, mas pela forma com que a AQKA conta sobre ela.

One story away (algo como “A uma história de distância”) é uma campanha para Netflix, desenvolvida pela AQKA em 2020, auge da pandemia da Covid-19. Num período em que a base de assinantes de plataformas de streaming cresceu absurdamente (todo mundo trancado em casa), a Netflix, apenas no primeiro semestre daquele mesmo ano, teve um aumento de quase 26 milhões de assinantes.

Enfim, todo mundo trancado em casa, assustados e sem acesso às novidades que até uma ida ao hortifruti pode nos proporcionar, restou apenas assistir às histórias disponíveis nas plataformas de streaming. E o core business da Netflix é muito mais do que ser um grande repositório de filmes e séries. É contar histórias.

A partir dessa constatação, foi fácil chegar à conclusão de como essa campanha deveria ser conduzida. Como eu disse acima, a forma como a agência apresenta a campanha no seu portifólio é genial e muito útil a nós, que ensinamos e aprendemos sobre Criatividade. A seguir, a tradução (ou a tentativa dela) da apresentação do Conceito pela AQKA:

O Conceito

As histórias têm o poder de aproximar todos.

Uma janela para o mundo de outra pessoa nos coloca no lugar dela. Seja por meio do impacto emocional ou do escapismo alegre, as histórias mudam as perspectivas, nos permitem sentir mais emoção e ver de uma forma mais empática.

A Ideia

Cada história é uma jornada. E o público é o herói.

A Netflix nos convida a entrar no grande desconhecido. À medida que viajamos do início ao fim, percebemos que não saber totalmente o que está à nossa frente é exatamente o que torna as histórias que valem a pena assistir, pessoas que valem a pena conhecer e a vida vale a pena viver.

Aqui, a barra de progresso familiar recebe um significado mais alto, agindo como um fio condutor através dos originais mais icônicos da Netflix. Ao longo dele se move o ponto vermelho; uma metáfora para o espectador que se torna a presença-chave em qualquer cena. Porque, em última análise, é a mudança de sentimento do público que dá razão para a narrativa existir e o poder de unir os mundos.”

Tudo iniciou com um teaser (ao menos foi o que eu entendi), composto da indefectível barrinha de progresso, sempre presente quando assistimos algo na Netflix, com a bolinha indicadora de tempo transcorrido. Ao que parece foi veiculado em OOH (outdoors e grandes painéis digitais).

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Teasers (fonte: Site AQKA)

E foi na forma de um belíssimo storytelling (contando uma história) que a AQKA concluiu a campanha:

A campanha segue, em todas as suas peças, com a mesma linguagem e linha criativa do filme.

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Demais peças (fonte: Site AQKA)

Isso só reforça o que eu vivo repetindo em sala de aula: toda campanha bem sucedida tem um conceito criativo e um KV na sua concepção. Não importa a forma como se chega neles, desde que os tenham.

Não tem como errar.

Pendenga de Anitta

Há uma semana, o Nubank anunciou que Anitta se tornou membro do Conselho de Administração. Isso mesmo. Quem passou os últimos 15 dias fora do planeta terra deve estar abismado com essa informação. Se você não faz parte desse seleto grupo, provavelmente está em um dos dois grupos a seguir: ou está achando o máximo ou achando o fim do mundo.

Pessoalmente, não me encaixo em nenhum desses dois grupos. Prefiro apenas observar e fazer minhas apostas.

Quando saiu a notícia, todos os grupos de WhatsApp não fizeram outra coisa a não ser comentar o caso. Foram discussões interessantes que versaram desde a importância de se ter uma mulher num conselho de uma instituição financeira até as previsíveis piadas (há que se registrar aqui que nenhuma delas foi a respeito de ser mulher, mas todas relacionadas ao conteúdo das suas músicas). Dias depois os veículos jornalísticos soltaram que Anitta até estudou para exercer tal cargo.

Mas a questão ainda evoca discussões nos grupos. Afinal, a coisa é séria ou não? Aqui entre nós, eu acho que está mais para uma ação de testemunhal versão 4.0.

Eu não vejo nada de mal, nem de mais, associar o nome da moça à marca. Anitta é uma artista bem sucedida (goste você ou não do estilo ou da música dela) e carismática. Além de ter feito muito dinheiro. O Nubank é um banco relativamente novo, cujo posicionamento mira na população mais jovem do país, que por sua vez, ou gosta das músicas de Anitta, ou se identifica com a cantora.

Já tem gente gritando por aí que a empresa cometeu um grande erro, que Anitta cometeu um grande erro e que o mundo tá errado. Mas, na minha opinião, nem o Nubank, nem Anitta estão errados. O mundo sim, em muitos aspectos, mas não os dois lados dessa nova parceria. Sim, parceria.

Neste caso eu vejo um jogo de ganha-ganha de imagem. O Nubank, que acaba de receber um aporte de US$500 mi de Warren Buffett, o que fez com que o mercado olhasse com mais “carinho” para a instituição, que já era vista com bons olhos, não apenas por ser inovadora, mas pelo seu posicionamento jovem e arrojado. Por sua vez, Anitta já vem há um bom tempo mostrando que não é apenas um mulherão que faz sucesso com suas músicas, mas uma mulher de negócios e que sabe gerencia-los bem.

Anitta quer cultivar a imagem de investidora. Nubank quer sedimentar a imagem de banco moderno. Como diz o ditado, é a fome com a vontade de comer aqui. Assim, em vez de simplesmente pagar um belo cachê à moça para que interprete alguma versão de uma de suas músicas falando de abrir uma conta no Nubank (o que provavelmente seria desastroso para sua imagem), desconfio que a empresa deva ter feito algumas reuniões para aprovar uma mudança no seu estatuto, criando um cargo de “conselheiro café com leite”, sem poderes de decisão ou de voto, mas com certa liberdade de representar o banco publicamente e até falar em nome do conselho (sempre devidamente brifada e orientada pela gestão).

Mas isso é só uma desconfiança e, se for verdade, achei uma ação sensacional, porque foge do padrão merchandeiro consagrado, colocando o testemunhal em um nível imaginado apenas na ficção. Por outro lado, pode ser perigoso, pois além de haver o risco de Anitta, conhecida por suas extravagâncias, cometer alguma atitude reprovável (que fatalmente pode espirrar no banco), pode abrir uma brecha para ações similares, em que assistiremos celebridades colocando em risco reputações duramente construídas em anos.

Talvez não aconteça nada disso. Anitta fará tudo como manda o manual e terá uma carreira razoável no segmento bancário. Mas acredito que será uma coisa efêmera. Tenho aqui pra mim que, em no máximo um ano, Anitta dará uma entrevista a algum periódico de variedades, falando sobre sua experiência, de como aquilo foi um aprendizado, mas que ela precisa dar prioridade à sua carreira. O título será “A licença de Anitta”.

Posso estar errado. Fiquemos de olho.

O fim das comunidades

O Google anunciou há alguns dias o fim do Orkut.

Teve gente que comemorou (pois tem um perfil do Facebook e acha o Orkut coisa de gente brega), teve gente que ficou chateada. Eu, por exemplo, fiquei chateado porque minha conta é beeeeeeem antiga. Posso me orgulhar de ser um dos primeiros brasileiros a ter uma conta no Orkut (tinha até uma comunidade, a “Velhinhos no Orkut”, da qual só podiam fazer parte os brasileiros que tinham uma conta desde 2004, e eu tava lá).

No Orkut eu reencontrei antigos colegas do Serviço Militar, colegas de faculdade, conheci gente de outros países, de outras empresas, fiz network, postei as primeiras fotos da minha filha… Foi muito legal enquanto durou. Claro, depois da chegada do Facebook e do Twitter, a coisa toda perdeu o glamour (que muita gente afirma nunca ter tido). Mesmo assim, não dá pra falar em Orkut sem sentir um fiozinho de saudade que seja.

Enfim, seguindo as instruções da (empresa) Google, fui lá na minha conta (que só consegui acessar depois de umas 458 tentativas e, por fim, depois de lembrar o email da conta) fazer o backup das minhas coisas lá: fotos, mensagens, contatos, scraps etc. Dali, só me interessavam as fotos e alguns contatos. O processo é bem fácil. Praticamente o Google e suas ferramentas fazem tudo sozinhos, transformando tudo em um arquivo .zip, que é arquivado no seu HD. Pronto!

Antes de dar um logout (o último, pois sei que nunca mais volto lá), por curiosidade fui olhar as comunidades das quais eu fazia parte. Além das bacanas, que reuniam turmas, amigos pelos gostos musicais, literários, fílmicos etc., tinham as comunidades toscas. Essas eram um show à parte.

Dei um print screen em algumas delas (as mais esquisitas) e postei aqui, para que fiquem na eternidade. Afinal, quando o Orkut acabar, elas vão junto.

Desenrola esse jingle

Desde moleque, sempre gostei de ouvir as emissoras de rádio, principalmente os programas comandados por lendas como Fabio Massari, para aprender mais sobre música, rock principalmente. Mas já há um bom tempo, simplesmente por causa da programação da Kiss FM (a única que tinha sobrado do segmento) e o monte de b#$%@ que o locutor “Titio” Marco Antônio fala, eu passei a ouvir a estação da saída auxiliar do rádio do meu carro. Com o meu iPod plugado lá, eu só ouço música boa e nenhum locutor falando bobagem.

Mas, eis que há um pouco mais de um ano, a 89FM voltou à vida e, finalmente, voltei a ter prazer em ouvir rádio, principalmente pelos locutores que lá estão, mandando algumas pedradas (outras babas) e algumas coisas novas. Além disso, como bom publicitário que sou, não mudo de estação nos comerciais (mesmo porque sou um motorista exemplar e não tiro o olho da rua) e ouço com fervor religioso o trabalho dos meus colegas de profissão.

(Observação importante: devo salientar que o texto a seguir foi escrito com base na MINHA observação da programação e dos blocos comerciais APENAS da 89FM. Sim, ignorei as outras, ok!?)

Algumas coisas, confesso, não consigo entender, como por exemplo rolarem os comerciais da promoção “Pediu Nova Schin, pediu pra ganhar”, com o Carlinhos Brown falando que os ganhadores iriam como VIPs a um show com a Ivete Sangalo, entre outras incongruências musicais. Apesar disso, alguns jingles “saltam aos ouvidos”, causando surpresas bem agradáveis.

Um bom exemplo é uma das incongruências que mencionei acima: a campanha para as camisinhas Olla, com a cantora de funk Anitta. A coisa ficou muito bem feita, pois a agência WoodyCom (do grande Woody Gebara, um dos responsáveis pelo nascimento do Sebastian “AbuseuseC&A”) deu um jeito da campanha impregnar na emissora (e nos seus ouvintes), mesmo sem ter a menor aderência com a programação. A saída encontrada foi a de patrocinar (além do merchan) o Show do Tatola, um programa mais bem humorado, despretensioso e com a mesma pegada da rádio. Em determinados momentos do programa, Tatola, Maia e Rubão falam de sacanagem (do tipo sexo, essa mesmo) e inserem no contexto a necessidade de se usar camisinha Olla. Tatola, locutor disciplinado que é, fala o texto todo, finalizando com uma deixa para Maia e Rubão falarem, com vozes distorcidas, da cantora Anitta. Nada ofensivo ou depreciativo em relação à campanha, pelo contrário. Ficou engraçadíssimo. Além disso, as boas e velhas vinhetas de abertura e encerramento do programa, as vinhetas de chamada ao longo da programação e, claro, o jingle que segue a linha do comercial de TV, produzido pela Paranoid.

Apesar de não curtir a música “Show das Poderosas” (e todo o resto do gênero), tenho que admitir que a letra da adaptação ficou genial. Quando Anitta canta “Prepara, que é hora / Olla é poderosa” é tudo o que um homem quer ouvir a respeito do preservativo que ele vai usar “na hora”. Ele não quer acidentes, portanto, a camisinha tem que aguentar. Os versos seguintes (“É a camisinha / Mostra que é fogosa”) vão ao encontro da performance pretendida pelo homem na cama, enquanto na cena as mulheres são atiradas, lânguidas, na cama. “Olla desenrola / É só partir pra ação” é bem dúbio, já que o verbo desenrolar pode se referir ao desenrolar do preservativo quando é colocado, ou mesmo à gíria “desenrolar”, que se refere a “facilitar”, “ajudar a conseguir”. Ou seja, a simples presença do pacote da camisinha te ajuda a faturar aquela mulher. Finalizando, os versos “Com Olla na mão / Viva a pegação” (este último é, também, o slogan da campanha) afirmam que com a camisinha Olla sempre por perto, você pode transar à vontade tranquilamente.

Outro jingle que, na minha modesta opinião, é genial, também ouvido na 89FM, é o criado para Negresco pela Publicis, produzido pela Bossa Nova: o rap “Desenrola”, escrita pelo Gabriel o Pensador e com uma interpretação impagável de Amaury Jr. (!!). Esse merece uma análise mais cuidadosa (a qual não sou capacitado no momento), mas, superficialmente falando, o ritmo é muito bacana (apesar de eu não entender como ele pode ser encaixado em rap…), a letra é muito rica e bem escrita. Dá vontade de cantar junto, mesmo!

Mas eu vou confessar que, até há mais ou menos uns dois anos, eu estava completamente incrédulo e desesperançoso quanto à publicidade no rádio. Coisas como o jingle da “Vaquinha Mococa está mugindo” e outras que me dão arrepio só de lembrar me passam a impressão de que a gente tinha desaprendido a fazer jingles, ou parado no tempo, sei lá.

Mas, a volta da 89FM, voltou a me encher de esperança em relação ao rádio. Tanto pela programação, quanto pelas campanhas. Valeu, 89FM, pela dupla alegria!

Camisetas Ardidas

Há pouco li um comentário do meu amigo Filipe Crespo a respeito das camisetas da Adidas com conotação sexual. Confesso que, até ele falar a respeito, nem sabia da existência delas. Aí, claro, como bom curioso, fui googlear a respeito e minha busca me jogou nos principais portais de notícias e jornais brasileiros.

Vou colocar uma fotinho delas para vocês que não viram ainda:

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Pessoalmente, achei as camisetas bem mequetrefes, pra não dizer breguinhas. Parecem daquelas estampas que encontramos em camelôs no centro da cidade, de malharias suspeitas. Visualmente falando, são bem feinhhas, mas bastante pejorativas. E isso me leva a falar sobre a crescente indignação do pessoal a respeito das pobres camisetas. Não pobres de “coitadas”, mas pobres de significância, de relevância, de criatividade etc.

É até compreensível essa indignação, se a gente ler o livro até a página dois, apenas. Claro, são camisetas sexistas, ofensivas (?) e que retratam o que o brasileiro tem de pior, ou mais estúpido. E o pior: feita por uma empresa gringa.

Mas, na boa? Minha indignação é com os criativos da Adidas e a diretoria da empresa, não por aprovarem algo que promova uma visão equivocada do meu País (com isso eu já nem perco o meu tempo, pois é tão batido…), mas com a falta de preocupação com as consequências para a marca que essas camisetinhas sem-vergonhas podem causar. Eu tou aqui imaginando o nível que deve estar naquela empresa, que chega ao ponto de aprovar algo tão imaturo e mal-feito.

Aí, você, leitor, me questiona (com toda razão) pelo fato de eu não perder o meu tempo me revoltando com o fato da nossa imagem estar sendo flambada pela Adidas. Confesso que, apesar de ter dito acima que não, fico, sim, bem revoltado com isso, assim como outras fritadas que temos levado ao longo da nossa história. Mas, minha raiva se dilui bastante no momento em que eu olho pro meu vizinho que não vê nada de mais no fato de verbas públicas financiarem aulas de inglês para prostitutas se comunicarem melhor com os turistas. Ou quando algum contato meu no Facebook não liga para quando o Pelé e o Ronaldo Fenômeno soltam suas pérolas a respeito da falta de hospitais e escolas não ter nada a ver com a realização da Copa. Pra não falar de outros pontos que me fariam escrever por mais dezenas de parágrafos, todos relacionados à sistemática deterioração, ou melhor, implosão da nossa autoestima. Implosão, sim, pois a deterioração nem sempre é dolosa, como a implosão.

Me desculpem, não vou me revoltar. Na verdade, vou apenas cruzar os meus braços e ficar assistindo alguns órgãos, ministérios e entidades espernearem contra algo que eles mesmos apoiaram e procuraram.

Para saber mais:

Camisetas com conotação sexual da Adidas para a Copa revoltam o governo

Governo pede que Adidas retire do mercado camisetas com apelo sexual

Adidas lança camisetas sobre a Copa com conotação sexual e causa polêmica

 

Dia do Orgulho Publicitário

Hoje é Dia do Publicitário!

Não é um dia de importância mundial, como o Dia da Confraternização Mundial ou o Dia do Trabalho. Não é uma data festiva, tipo Carnaval, Páscoa ou Natal. Não é um dia querido, como Dia das Mães, Dia dos Pais ou Dia das Crianças. Não é um dia como nenhum outro, ao mesmo tempo que, para nós Publicitários (com letra maiúscula, mesmo), é um dia como qualquer outro.

Primeiro, porque não é feriado pra gente e, mesmo que fosse, a gente iria trabalhar assim mesmo (com certeza deve ter pelo menos um job com deadline pra ontem). Segundo, porque vejo cada vez menos, principalmente nas novas gerações, aquele orgulho de exercer uma profissão nobre e importante como a de Publicitário. Vou listar alguns dos motivos que entendo como causa disso.

Desde que entramos na faculdade, somos bombardeados por professores (geralmente de outra formação, que não em Publicidade) que passam o tempo todo das aulas nos falando sobre o caráter nefasto e manipulador da Publicidade, ou como a Publicidade influencia as crianças, ou como a Publicidade nos faz querer comprar coisas que não precisamos. Para não falar do eterno discurso que prega que a Publicidade não tem ética e nem responsabilidade social, não liga para as criancinhas famintas da África e só quer saber de encher o bolso de dinheiro advindo da desgraça alheia.

Aí, de uns anos para cá, alguns “publicitários” (esses com letra minúscula e entre aspas) são enfaticamente citados como envolvidos em escândalos de corrupção, falcatruas, crimes e outras barbaridades. Apesar de serem qualquer coisa, menos Publicitários (geralmente são administradores, economistas, sem graduação etc.), já deram, graças à imprensa, a sua contribuição para a fritura da classe. Vale ressaltar que um desses casos, de fato, foi protagonizado por um Publicitário, por sinal, brilhante. Mas só ele.

Continuando, você se forma Publicitário e vai procurar o primeiro emprego no mercado e descobre que, para trabalhar na área, o diploma é menos importante que a experiência e conhecimentos que você tem que ter: domínio de Photoshop, Illustrator, InDesign, Java, programação, HTML, edição de filmes, escrever bem, desenhar melhor ainda, raciocínio lógico e abstrato, inglês fluente, espanhol intermediário, uma terceira língua (desejável) e experiência de, no mínimo, 2 anos. Tudo isso para uma vaga de auxiliar de assistente do substrato de estagiário da copa.

Para não falar da falta de respeito que é o salário inicial, que acaba fazendo com que esses egressos das instituições de ensino procurem outras atividades mais lucrativas, como concursos públicos. Vale ressaltar aqui que a escolha se dá pelo seguinte raciocínio: “já que eu vou ter que ralar, que seja por um bom salário e estabilidade” (coisas que a nossa profissão, assim como toda a iniciativa privada, não dá).

Assim, parabéns pelo nosso dia, a todos aqueles que ralam no dia a dia, seja nas agências, nas empresas, nos veículos ou fornecedores, como Publicitários e com orgulho disso.

Parabéns pelo nosso dia, a todos os professores-Publicitários, que a despeito dos colegas que espinafram a profissão daqueles a quem ensinam, fazem de suas aulas lições VERDADEIRAS sobre a Publicidade e, algumas vezes, sessões de terapia coletiva com os alunos.

Parabéns pelo nosso dia, aos alunos dos Cursos de Publicidade e Propaganda e de Propaganda e Marketing, que apesar dos pesares, ainda acreditam na profissão e sonham em fazer de suas vidas uma lição do que é a verdadeira Publicidade.

Tenho muito orgulho de ser Publicitário, ser formado em Publicidade e Propaganda, ensinar Publicidade e trabalhar em (e com) Publicidade. Parabéns a você, que sente esse mesmo orgulho, apesar dos pesares.

Quem sabe, um dia, essa data mude de nome para “Dia do Orgulho Publicitário”.